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sábado, 14 de novembro de 2009

Reações Adversas a Alimentos e Imunidade Humoral: Subclasses de Ige a Antígenos Alimentares

Saúde & Qualidade de Vida - Patologia & Nutrição

Extraído de Rev. da Sociedade de Alimentação e Nutrição

ZANIN, C. M.; MARCHINI, J. S.; CARVALHO, I. F. Reações adversas a alimentos e imunidade humoral: subclasses de IgG a antígenos alimentares. Nutrire: ver. Soc. Bras. Alim. Nutri. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP., v.24, p.125-134, dez., 2002.

Introdução

A alergia alimentar continua a ser um termo mal empregado e mal compreendido pela população em geral. O equívoco freqüente é que todas as reações alimentares têm base alérgica e essa definição faz com que aproximadamente 15% da população apresente “alergia alimentar” (Altman e Chiaramonte, 1996), sendo que a prevalência correta é de 0,1 a 8% (Sampson e Ho, 1997; Bock, 1987).


Considera-se alergia alimentar uma reação exclusivamente dependente da participação de anticorpos da classe IgE com o antígeno alimento. Quando isso não ocorre recomenda-se o termo reação adversa alimentar ou intolerância alimentar. Entretanto a nomenclatura na área médica também não está estabelecida de maneira uniforme.

A reação alérgica a um nutriente ocorre, geralmente, dentro de uma hora após o estímulo, enquanto a intolerância alimentar pode levar de horas a dias para se manifestar e afeta um número maior de pessoas. Portanto deve ser considerada no diagnóstico diferencial da alergia alimentar.

Dieta e Resposta Humoral

A ingestão diária de alimentos e bebidas constituem a maior fonte de antígenos para o organismo humano. Para que ocorra uma reação alérgica a um determinado alimento, proteínas ou moléculas grandes deste alimento (antígeno/alérgeno) devem ser absorvidas, interagir com o sistema imunológico e produzir uma resposta. Sob condições normais o trato gasrtrointestinal e o sistema imunológico proporcionam uma barreira, a qual impede a absorção da maior parte das proteínas intactas. Esta barreira utiliza IgA para proteção do lúmen intestinal e o complexo imune (CI) promove ainda a secreção de muco e proteólise na superfície da muscosa intestinal (Sampson, 1999). Quando esta barreira falha pode ocorrer uma sensibilização do tipo alérgica e uma reexposição ao antígeno produz a reação alérgica.

A resposta humoral envolve a formação de anticorpos e possui um papel importante na patogenia das reações adversas a alimentos, pois as reações alérgicas clássicas são dependentes das imunoglobulinas IgE e não de anticorpos. Porém, foi demonstrado que nível elevado de IgG aparece quando se tem um tempo prolongado de exposição ao antígeno nas membranas das mucosas (Homburguer et al, 1986) e poderia representar uma resposta normal a proteína da dieta (Paganelli et al, 1979).

A formação de CI representa um evento normal na resposta imune, contribuindo entre outros efeitos para a neutralização e eliminação do antígeno. Níveis aumentados de CI podem ser encontrados em várias condições clínicas bem como muitos tipos de CI podem ser formados na resposta para um mesmo antígeno e na evolução da doença.

No trabalho de Paganelli et al (1987) foi investigada a distribuição de subclasses de IgG na resposta para b-lactoalbumina e ovoalbumina tendo sido constatado resultados similares em todos os pacientes com alergia ou intolerância alimentar, com predominância de IgG4, seguida de IgG1, IgG3 e IgG2. Níveis de anticorpos IgA, IgG e subclasses de IgG para uma variedade de antígenos alimentares foram determinados por ELISA com predominância de IgG2 seguido de IgG1 para farinha de trigo , ao passo que IgG4 dominou a resposta para b-lactoalbumina e ovoalbumina (Hvatum, 1992).

Em adição ao conhecimento da concentração da imunoglobulina IgG, há também o interesse da identificação da subclasse envolvida considerando a diversidade das funções biológicas de cada tipo de molécula. Exemplificando: as subclasses IgG1 e IgG3 possuem maior capacidade de ativar a via clássica do sistema complemento e ligar-se a macrófagos e outros fagócitos quando estas propriedades são comparadas com as da IgG2 e IgG4 respectivamente.

Alérgenos alimentares

Os alérgenos mais comuns são aqueles encontrados em alimentos com alto conteúdo protéico, especialmente de origem vegetal ou marinha (Taylor, 1986). Em crianças, os alimentos mais frequentemente relatados como causadores de reações adversas são o leite de vaca, soja, amendoim, ovos, trigo e peixe (Marshall et al, 1984; Bock, 1987; Eglesson, 1987; Sampson, 1988). Entretanto a alergia alimentar pode se desenvolver com a ingestão de qualquer alimento incluído na dieta (Bock, 1987).

População de Risco

De uma maneira geral, a alergia alimentar é observada com maior frequencia em populações de risco como as que possuem algum tipo de desnutrição (pois apresentam anormalidades do sistema imune e sua função alterada propiciando a instalação e o agravamento de infecções e doenças), em estados de imunodeficiência (Panush, 1986; Adams, 1995), em doenças do aparelho digestivo ou em doenças auto-imunes (apresentam produção anormal de anticorpos e uma atividade alterada de células T).

Sintomatologia

O constante aumento da frequência de doenças relacionadas com reações alérgicas a alimentos representam um sério desafio para imunologistas e alergistas (Paganelli et al, 1987). Os sintomas são variados, podendo estar “mascarados” simulando quadro clínico de outras doenças. Portanto, não deixa de causar surpresa a abrangência do espectro das manifestações clínicas associadas aos mecanismos imunológicos das reações adversas a alimentos, as mais frequentemente relacionadas na literatura estão na Tabela 1.


Tabela 1 Manifestações clínicas induzidas por reações adversas a alimentos

Prurido (cutâneo, conjuntival, oral), urticária, dermatite atópica, dermatite herpetiforme-simile, angioedema, rubor, cianose, sudorese, bolhas, formigamento na boca e garganta, edema labial, gosto metálico.
Conjuntivite e lacrimejamento
Espirros, congestão nasal, rinorréia, rouquidão, estridor, edema laringeal, dispnéia, taquipnéia, broncorréia, chiado, asma
Hipotensão, taquicardia, arritmia
Náuseas, vômitos, cãibras, dor abdominal, distensão, diarréia, constipação, esteatorréia, colite hemorrágica (lactentes), gastroenterocolite eosinofílica, enteropatia (glúten-sensível, proteína-dietética), incontinência fecal e urinária.
Artralgia, artrite
Cefaléia, enxaqueca



Considerações Finais

A alimentação é fundamental para a manutenção da higidez como também para a terapêutica e prevenção de muitas doenças, mas certos alimentos e aditivos alimentares podem se tornar nocivos às pessoas sensíveis ao mesmos. Portanto é essencial estar alerta a sintomatologia imediata ou retardada após a ingestão alimentar para caracterizar o tipo de reação e determinar com precisão o alimento envolvido.


ZANIN, C. M.; MARCHINI, J. S.; CARVALHO, I. F. Reações adversas a alimentos e imunidade humoral: subclasses de IgG a antígenos alimentares. Nutrire: ver. Soc. Bras. Alim. Nutri. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP., v.24, p.125-134, dez., 2002.



FONTE: http://www.rgnutri.com.br/sqv/patologias/raai.php

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